29.4.04


HONKIN' ON BOBO - Aerosmith

O Aerosmith é uma banda que ninguém presta mais atenção, certo ? Certo.

Mas deveriam.

"Honkin' On Bobo" é um disco maduro do Aerosmith. Isso soaria estranho não fosse o fato de a veterana banda ter se dedicado ao longo da década de 90 e parte da 80 ( desde a sua volta triunfal às paradas ) a fazer música para adolescentes. Jamais perderam a verve rock and roll, mas nitidamente fizeram inúmeras concessões de mercado para obterem êxito. Não estou aqui questionando a capacidade da banda em cometer verdadeiras pérolas pop/rock, mas o enfoque dado por eles foi completamente diferente de sua própria postura nas décadas que antecederam esta volta.

Dito isto, só posso exaltar um trabalho como este "Honkin' On Bobo". Ao regravar clássicos do blues americano e só incluírem uma canção inédita ( "Never Loved a Girl", a mais fraca do disco ), a banda parece querer se desvencilhar do rótulo "banda de rock para adolescentes" que os persegue. E bom gosto na escolha do repertório mostra que não só eles ainda entendem do riscado, como tem muito para ensinar a garotada. De Willie Dixon ( "I'm ready" ) a Bo Diddley ( "Road Runner" ), passando por uma canção de Big Joe Williams eternizada pelo Them, de Van Morrison ( "Baby Please Don't Go"), as versões ( sim, versões, e não covers ) do Aerosmith são inspiradas e é desnecessário dizer que a banda está afiada, que os músicos são de primeira, etc.

A única nota distoante é exatamente o fato de o melhor trabalho do Aerosmith em muitos e muitos anos ser um álbum de covers. Eles são capazes de muito mais. Mas mesmo assim, "Honkin' On Bobo" é diversão garantida para quem se interessa pelas raízes da música americana.

27.4.04

CURITIBA POP FESTIVAL - Uma breve consideração

Vamos aos fatos : 3000 entradas foram vendidas em poucas horas, obrigando o Festival a ser transferido para um local maior, o que possibilitou a venda de mais 5000 entradas por dia.

Acontece que as vendas pararam !! Por que ?

Ou o público indie não chega a 8 mil pessoas no país....
Ou o público indie com condições de ir ao evento em Curitiba não chega a 8 mil pessoas no país...
Ou os 3 mil que compraram são os únicos que tinham grana. O resto só esperneou.

Vocês decidem. O fato é que o Brasil deve ser o único país da atual turnê dos Pixies que tem ingresso para venda fácil.

20.4.04


A FOREIGN SOUND - Caetano Veloso

A partir do momento em que uma figura de ilibada reputação ( para quase todos ) como Caetano Veloso resolve enveredar por outras praias e gravar um disco de covers oriundas dos mais diferentes compsitores, dá o direito a pessoas dos mais diferentes ramos do jornalismo cultural ou não de criticarem sua obra. Não quero analisar os motivos que o levaram a fazer este álbum. Vou me ater apenas ao disco. E sabem o que mais ? Eu até que gostei.

É óbvio que um trabalho como este não poderia resultar em outra coisa senão irregular. Caetano se dá muito bem em algumas regravações, mas nos momentos em que ele se arrisca mais, como a tão falada pelo mundo indie, "Come as You Are", de Kurt Cobain, ele se dá mal. Oportunista ou não, o fato é que os fãs de Kurt ou simplesmente os que conhecem a gravação original se envergonharam ao ouvir esta versão. Uma outra que chama a atenção é "Nothing But Flowers" de seu brother David Byrne, gravada por sua ex-banda, o Talking Heads. Se a versão original trazia um clima bastante alegre, Caetano conseguiu torná-la sombria, indo no caminho contrário ao de sua letra, que fala de forma otimmista de um mundo onde a tecnologia deu lugar à natureza. Além destas duas, It's Alright Ma ( I'm Only Bleeding )" de Bob Dylan soa estranha aos ouvidos, mas não compromete.

Em compensação, quando Caetano se envereda por alguns clássicos do cancioneiro em lingua inglesa, como "Manhattan", "Summertime", "Smoke Gets In Your Eyes", "Love Me Tender" e "The Man I Love", ele se dá bem exatamente porque é um grande intérprete, que consegue como poucos imprimir uma personalidade às canções, sem simplesmente relatá-las para o ouvinte. No final das contas, "A Foreign Sound" é um álbum que vale a pena conhecer, ainda que os fãs de Nirvana, Talking Heads e Bob Dylan estejam dispostos a apedrejá-lo.

12.4.04


JOIN THE DOTS (box set) - The Cure

Sei não, mas acho que estou ficando velho, chato, ranzinza e gagá.

Eu poderia terminar este texto com esta frase inicial, que seria uma conclusão do que vou escrever agora, mas decidi abri-lo com ela exatamente para que ela tivesse o peso do que senti ao ouvir esta caixa de lados B, sobras de estúdio, covers e remixes do The Cure.

Cobrindo praticamente toda a carreira da banda, a caixa é dividida em 4 CDs - cada uma representando uma fase distinta da banda - que mostram uma banda que não segue a máxima "uma banda que já teve altos e baixos". Ouvindo esta caixa e partindo do pressuposto que lados B são faixas que não tiveram qualidade suficiente ( por um motivo ou por outro ) para entrar na track list de um determinado trabalho, chegamos à feliz conclusão que o The Cure é das poucas bandas que podem se dar ao luxo de serem sempre bons.

Ouvindo mais uma vez os 4 Cds de "Join The Dots", chegamos a mais uma feliz conclusão : pelo menos desde 1976, o rock está vivo, não morreu e não precisa de nomes que surgem a todo momento para ressucitá-lo. Pra que ? Enquanto Robert Smith estiver vivo e fazendo música, podemos ficar tranquilos que sempre haverá boa música para se ouvir.

E ao ouvir mais uma vez os 4 Cds de "Join The Dots", chegamos a pelo menos uma triste conclusão : como o rock de hoje em dia está sem criatividade, inventividade.....um marasmo. A caixa "Join The Dots" vale bem mais do que 100 Libertines, Yeah Yeah Yeahs, Raptures, Interpols e coisas parecidas.

7.4.04


A GHOST IS BORN - Wilco

Curioso. No momento em que ouvia atentamente a este disco desta que é uma das mais respeitadas e criativas bandas norte-americanas, me deparei com uma notícia aqui mesmo na internet, que dizia que Jeff Tweedy - vocalista, guitarrista, mentor e principal compositor do Wilco - se internou em uma clínica de reabilitação para se tratar de uma dependência química de analgésicos. Ao que parece, Tweedy é atormentado por frequentes dores de cabeça e vive à base dos chamados painkillers.

Me voltei então para a audição atenta deste "A Ghost Is Born", mais recente trabalho da banda, tentando descobrir em que ponto dele Tweedy tenta exorcisar este seus demônios, se é que podemos defini-los desta forma. Não são poucas as histórias em que músicos utilizam os acordes que saem de suas guitarras, baixos, teclados e baterias como uma fuga para algo que os atormenta. Pensando melhor, a música sempre foi e sempre será o instrumento perfeito para isto. Que melhor remédio pode existir do que o prazer de se fazer ( ou ouvir ) boa música ?

Fiquei imaginando o que estaria passando pela cabeça de Jeff Tweedy ao compor e executar os dois épicos-de-mais-de-dez-minutos deste álbum ( "Spiders" e "Less Than You Think" ). É possível que ali ele tenha encontrado uma maneira de aliviar sua dor, mesmo que ela não estivesse presente no momento fisicamente, mas intrinsecamente ligada ao seu processo de existência no universo pop. Como a matéria não dizia há quanto tempo Tweedy luta contra isto, imaginei também que as dores devem ter começado em algum momento antes do processo de criação e gravação de sua obra-prima, o álbum "Yankee Hotel Foxtrot" ( 2002 ) - um álbum mais atormentado do que todo o trabalho anterior da banda junto.

Também não são poucas as histórias que dizem que os grandes gênios da música criaram suas melhores obras sob o efeito de drogas, remédios ou coisas parecidas. Se isto é verdade, é perfeitamente entendível que "Yankee.." e "A Ghost..." sejam bastante parecidos. Posso imaginar perfeitamente a imagem de Tweedy cantando sob o efeito de remédios, enquanto sua atormentada e doída cabeça ( mente ? ) pensa em como finalizar a próxima canção. Somente quem já passou por este processo pode entender isto.

Como eu nunca passei, pode ser que eu esteja redondamente enganado em tudo isto que escrevi acima, com exceção da parte onde disse que "A Ghost Is Born" é uma obra-prima. E se por um acaso você não tiver lido isto aí acima, saiba que foi por puro deslize.

6.4.04


Musicology - Prince

A resenha que abre esta nova fase da Soundmagazine não poderia ser de outro senão do geniozinho de Minneapolis, o coisinha em pessoa, o ser humano que um dia já teve um nome impronunciável, o primeiro e único Prince Rogers Nelson.

Depois de algum tempo entre batalhas judiciais com gravadoras e esquisitices musicais ( entre elas, dois discos de jazz ! Não que jazz seja esquisito, mas para quem estava habituado com o som funkyboss de Prince... ), ele está de volta à sua melhor forma, fazendo o que sabe de melhor : funk, soul, black music e sexo.

Musicology põe fim aos boatos de que ele estaria louco e que teria enveredado de vez por outros caminhos mentais. Pode até ser que isso seja verdade, mas a música que fez com que Prince fosse conhecido mundialmente está de volta. As batidas nervosas, as misturebas sonoras, os ritmos irresistíveis e as baladas melacuecas que influenciaram gerações e provocaram discípulos como Andre 3000, do Outkast ( o que é "The Love Below" senão um sub-produto de Prince ? ) estão intactos.

E como se não bastasse, o cara ainda vai embarcar numa turnê mundial para promover este álbum e tocar seus clássicos pela última vez. Tomara que esta última vez seja como a última de David Bowie, por exemplo. Com Musicology, o funksoulbrother Prince manda os discípulos e imitadores de volta para seus quartinhos equipados com modernos softwares de gravação para treinarem mais um pouco. Em matéria de quartinho, os de Paisley Park já viram e ouviram muito mais coisa entre suas paredes.
Bom dia, boa tarde e boa noite.
Para quem não me conhece, sou Rodrigo James e ha alguns anos criei o site Soundmagazine, que não era outra coisa senão uma revista digital de idéias relacionadas à cultura pop, principalmente música.
O tempo foi passando e o meu tempo também foi ficando exíguo. A Soundmagazine acabou em algum momento do ano de 2003, mas a idéia de voltar com ela nunca saiu de minha cabeça.
Agora, a Soundmagazine volta como um blog para que eu possa atualizá-la de maneira mais dinâmica. Por enquanto, é só uma versão beta. Vou aprimorar o layout e conteúdo com o tempo. Mas fica desde já o convite para que vocês apareçam por aqui mais e mais vezes.

Sejam benvindos à Soundmagazine 2004 !

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