22.10.04



THE DRESDEN DOLLS

Vira e mexe, alguém da imprensa cultural mundial proclama que o rock and roll está morto. Quando não é um jornalista, é um músico que, chateado pela mesmice do gênero em que milita, decreta que a era das guitarras acabou, conseguindo chamar a atenção. Geralmente as respostas vêm em forma de movimentos ou de novos artistas que recuperam a força das guitarras sujas, revitalizando um gênero que, não muitas vezes, já foi acusado de não saber se reinventar.

Mas o que isso tudo tem a ver com os Dresden Dolls - uma dupla norte-americana que tem em sua formação uma cantora que mais parece oriunda de um cabaré alemão da década de 20 e um baterista com formação múltipla ? A resposta é simples. Ao abdicar do som de guitarras, e ao mesmo tempo ser influenciada por artistas que primam pelo experimentalismo e pela criatividade se utilizando de uma guitarra ( como The Fall e PJ Harvey ) a dupla consegue criar algo novo – artigo em falta nos supermercados musicais dos nossos dias.

O disco de estréia dos Dresden Dolls, recém-lançado lá fora, é um pouco disso tudo. Energia punk misturada a melodias nitidamente inspiradas nos tais cabarés alemãos, além de um pouco da rebeldia contida de nomes como Tori Amos. As canções não seguem nenhuma fórmula estabelecida, a não ser a de que não existem limites para se tratar de temas difíceis, como a transsexualidade ( “Half Jack” ) e a dificuldade de se relacionar com uma mulher ( “Girl Anachronism” ). Amanda Palmer imprime veracidade, lirismo e força em sua voz, ao mesmo tempo em que esmurra delicadamente seu piano na tentativa de obter notas que aproximem o som da dupla da agressividade das bandas punk da década de 70. Brian Viglione pontua tudo em sua bateria, acompanhando as loucuras às vezes contidas de Amanda, e parecendo ora um baterista de jazz, ora de uma banda tecnopop dos anos 80 ( outra influência bastante presente no som dos Dresden Dolls ).

Formada em 2001 na cidade de Boston, a dupla consegue, neste trabalho, fazer um som atemporal, podendo estar situado em alguma das épocas já descritas por aqui ou ainda em algum lugar do futuro. Aliando passado, presente e futuro em seu som, os Dresden Dolls conseguem trilhar um caminho que muitos têm perseguido sem sucesso : o do ineditismo em uma era onde a música engatinha à procura de seu rumo. É a tal crise criativa que se abate pelas culturas nos inícios de séculos. Ainda bem que os Dresden Dolls não fazem parte de tempo algum.

8.10.04



AROUND THE SUN – R.E.M.

É uma tarefa bastante ingrata falar de um álbum de um de seus artistas prediletos predileta. Muitos dirão que é impossível deixar a passionalidade de lado. Outros tantos, eu incluído, dirão que nunca será possível falar de álbum algum sem que isso aconteça. Ainda mais quando o artista em questão é o R.E.M. – banda que, não raras as vezes, tratou o sentimento como coisa de gente grande.

“Around The Sun” é uma espécie de continuação musical de “Reveal” e “Up”, os dois últimos álbuns de inéditas de Michael Stipe, Mike Mills e Peter Buck. Já virou lugar comum dizer que desde a saída de Bill Berry, o R.E.M tem procurado ansiosamente seu caminho. Se “Up” é um álbum de transição e “Reveal” aponta para alguns caminhos, “Around The Sun” deveria ser a conclusão desta busca. Mas não é. E ainda assim, aponta para algum lugar.

Sim, as belas melodias, as letras inspiradas estão todas lá, mas ainda falta algo. Talvez não a jovialidade e força de trabalhos como “Document” e “Green”, mas a coesão e sensação de perfeição que permeava trabalhos como “Automatic For The People”. Canções como “Make It All Ok” e “The Outsiders” são belas, mas ainda falta algo. O tal pulo do gato que fez do R.E.M. a maior banda de rock do mundo e, num instante depois, responsável por que tantos corações rockers se derretessem ao som de “Everybody Hurts” ( talvez a mais linda balada já feita, à exceção de “God Only Knows”, dos Beach Boys ).

Stipe, Buck e Mills estão mais velhos, tranqüilos, em paz consigo mesmos, mas nem por isso relaxados. A construção das canções continua com a complexidade simples que sempre permeou seu trabalho. A politização das letras, marcante em alguns momentos de sua irrepreensível carreira, aqui chega em versão John Kerry, com a banda assumindo uma postura liberal a favor do candidato democrata à presidência americana, e dizendo isso em canções como “I Wanted to be wrong” e “The Worst Joke Ever”. Na verdade, o sentimento político está tão presente que é possível encontrar metáforas para isto em todas as letras de “Around The Sun”.

Não vai ser com este álbum que a banda vai deixar de ter uma carreira irrepreensível, mas o novo milênio ainda não mostrou suas caras para o R.E.M. Passionalidade e politização não são mais suficientes para dar o tal pulo do gato, mas ainda assim eles conseguem manter a linha. Tantos anos de estrada, por mais incrível que isso possa parecer, atrapalharam um pouco os rumos do trio. Ainda mais que, nesta era de pouca criatividade, todos parecem querer trilhar o mesmo caminho de sucesso deles. E é preciso estar bastante à frente de seu próprio tempo para fugir dele.

TIM FESTIVAL

- PJ Harvey
- Primal Scream
- Brian Wilson
- Libertines
- Mars Volta.

Só posso dizer uma coisa : nos vemos lá.

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