27.6.04



THE CURE – The Cure

Robert Smith é mesmo uma figuraça. Como se não bastasse o cara ser o dono do visual mais esquisito ( e imitado por fãs ) da história da música pop, é um raro caso de sobrevida neste mundo. Lá se vão quase 25 anos desde o lançamento do primeiro álbum de sua banda, The Cure, e ele continua insistindo. Por inúmeras vezes, ele ameaçou encerrar a carreira, trocou os integrantes, quis partir para trabalhos solo, até perceber algo que todos os fãs e cultuadores já sabiam : ele é o próprio The Cure.

Hoje não importa mais quais são os músicos que integram a banda. O que ouvimos nas 11 faixas do recém lançado “The Cure” remete diretamente ao que pensa, ao que sente, e principalmente, ao que anda ouvindo seu líder, criador e “cara” da banda, Robert Smith. O mais incrível é embarcar na jornada que nos é proposta por ele e realizar que, por mais que ele se esforce, jamais soará pedante ou menos interessante, simplesmente porque a bagagem adquirida ao longo destes anos todos lhe confere uma posição toda especial no panteão pop, que discípulos como The Rapture invejarão e imitarão ainda por um bom tempo.

E se não fosse por mais nada, a aula de boa música ministrada por Robert Smith e seus asseclas neste álbum já teria bastado por duas faixas. A primeira, “Lost” e a última “The Promise” trazem de volta as guitarras carregadas e a voz inconfundível de Bob e são dignas dos melhores momentos da banda em todos os tempos. De cara, o The Cure deixa claro que as guitarras estão de volta à pauta, cortesia do produtor Ross Robinson (conhecido por seu trabalho com bandas de new metal), ou quem sabe do próprio Robert Smith, que deve ter sentido falta delas em seu trabalho anterior, o irregular “Bloodflowers”. No mais, seria clichê dizer que este é o bom e velho Cure de sempre. Mas em certos casos o clichê é perfeitamente plausível. Afinal, quer coisa mais clichê do que um disco do The Cure ?

Muitos vão acusar Robert Smith de estar se repetindo nestes clichês, mas a questão aqui é outra. Numa época de pouca originalidade no rock, a pergunta é quem repete quem. Sempre é bom prestar um pouco de atenção e identificar o original, além de saber separá-lo da cópia. The Cure ainda é das poucas bandas originais em atividade no mundo, apesar de estarem num constante processo de auto-reciclagem.

25.6.04

GERAÇÃO VINIL

Para um ser humano amante de música como eu, egresso da década de 80, o prazer de abrir um disco ( na década de 80, um vinil. Depois, um CD ) e colocar no toca-discos/cd player não pode ser traduzido em palavras. Infelizmente, graças aos altos preços dos produtos audio-visuais dos nossos dias, este prazer tem sido bem pouco presente em minha vida nos últimos sei-lá-quantos anos.

Portanto, é com muito prazer que comunico que sou um feliz proprietário de uma cópia original de meu álbum "ilha deserta" : "Astral Weeks", de Van Morrison. E se um dia for para a tal ilha, levarei o CD original, a cópia e minha antiga gravação em fita K7 para garantir.

Com licença que vou ali ouvir mais umas 700 vezes.

16.6.04

C L Á S S I C O S



MESSAGE IN A BOX – The Police

Para quem não sabe, este que vos escreve tem 32 anos e viveu sua adolescência nos anos 80, a “’decada perdida” para muitos. Hoje percebo que a moda, os costumes e hábitos de quem viveu grande parte da vida naqueles anos nem tão loucos assim, eram realmente de gosto muito duvidoso. Eu mesmo já usei calça da Ocean Pacific verde-limão, camiseta da Pier alaranjada e tênis Redley preto. Se você não entendeu nada, não se preocupe, é melhor ficar com seus conceitos atuais de moda.

Grande parte das pessoas que hoje olham para trás e revisitam a década de 80 concluem, não sei porquê, que a produção musical ali nascida e criada padece de qualidade. Como tudo no mundo da música é discutível, sou um dos que não concordam com esta afirmação. Pode-se até dizer que as décadas de 70 e 60 produziram um número maior de artistas e trabalhos revolucionários, mas os anos 80 tiveram o seu valor no mundo musical. Bandas como U2, The Cure, Smiths e Echo & The Bunnymen atingiram níveis de popularidade e qualidade poucas vezes vistas na histórias da música ( apesar de algumas delas terem sido criadas no final da década de 70, mas não importa ). Uma destas bandas foi o The Police.

Criado em 1978 por Sting, Andy Summers e Stewart Copeland, o The Police atingiu seu auge em 1983 com o lançamento de seu último álbum de inéditas, “Synchronicity”, e a turnê promocional deste, que percorreu o mundo. O segredo do som da banda não era guardado a sete chaves : formação básica de instrumentos ( baixo, guitarra e bateria ), um pé no reggae, outro no rock e mais alguns no ska, dancehall e coisas do tipo. Somado a isto tudo, o virtuosismo de Andy Summers, a impressionante técnica de Stewart Copeland ( um dos maiores bateristas de todos os tempos. Ponto final. ) e o carisma de Sting, que muito antes de virar amigo do Raoni e enveredar por outros ritmos em sua carreira solo, curtia um rock and roll e tinha uma voz aguda incomparável.

O The Police lançou cinco discos “em vida” : “Outlandos D’Amour”, “Zenyatta Mondatta”, “Regatta de Blanc”, “Ghost In The Machine” e “Synchronicity”, além de um sem número de coletâneas e discos ao vivo póstumos. Esta caixa não só contêm tudo que eles gravaram, como ainda traz algumas faixas ao vivo. Dos acordes punk do primeiro single ( “Fall Out” ) à versão 2 de um de seus sucessos ( “Don’t Stand So Close To Me” ), a carreira do Police pode ser definida como de poucos baixos e muitos altos.

No primeiro álbum, “Outlandos D’Amour” a mistura sonora da banda estava apenas tomando forma, mas a grande capacidade deles de compor e executar canções pop já era evidente. “Roxanne”, “So Lonely” e “Can’t Stand Losing You” não me deixam mentir. São três pérolas irretocáveis, que seguem direitinho a fórmula : refrão assobiável, melodia grudenta e letra fácil de ser decorada. No ano seguinte, a banda lança “Regatta de Blanc”, para muitos seu melhor trabalho e a síntese de seu som. Dele, os destaques vão para “Walking On The Moon”, “Message In a Bottle” e “The Bed’s Too Big Without You”.

Na sequência viria “Zenyatta Mondatta”, uma continuação inferior de “Regatta” e “Outlandos”, mas com um hit que segurou a peteca, “De Do Do Do De Da Da Da”. Em 1981, o sombrio álbum “Ghost In The Machine” marcou uma espécie de transição no som da banda. Se por um lado, a alegria quase infantil dos dois primeiros álbuns não estava mais presente, a maturidade introduziu novos elementos nas composições e nas performances do trio, como em “Spirits In The Material World”, “Driven To Tears” e aquela que muitos consideram a melhor música da banda, “Every Little Thing She Does Is Magic”.

Finalmente, em 1983, “Synchronicity” ganharia as ruas e alçaria o Police a um degrau mais alto no panteão pop graças a uma mega-hit ( “Every Breath You Take”, acompanhado por um dos melhores video-clips da história, dirigido por Godley & Creme ) e um sem número de belas melodias e letras inspiradas na teoria da Sincronicidade, de Carl Jung. Logo após a turnê deste álbum, a banda se dissolveria para se reunir novamente em 1986 e gravarem “Don’t Stand So Close To Me 86”. A faixa fez parte de uma coletânea lançada no mesmo ano e foi a última vez que o Police se encontrou num estúdio. Alguns anos mais tarde, eles ainda fariam uma turnê ao lado do U2 e de outros artistas em prol da Anistia Internacional, mas àquela altura do campeonato a carreira solo de Sting falava mais alto.

“Message In a Bottle” é a oportunidade perfeita para as novas gerações tomarem contato com o trabalho do Police e acabarem com os preconceitos que existem, do tipo “ah, esta é a banda daquele chato do Sting”, ou “a banda de um hit só ( Every Breath You Take )”. Quem viveu a década de 80 e seus sons, sabe a importância que o Police teve e sua influência nas gerações que viriam na sequência. Só para citar uma delas, aqui mesmo no Brasil, basta dizer que os dois primeiros e também clássicos discos dos Paralamas do Sucesso não existiriam se não fosse a influência confessa de Sting, Andy Summers e Stewart Copeland. E isso não é pouca coisa.

3.6.04


FIRST TRIP - Syd Barrett

Imagine a situação...

O ano é 1966. Seu nome é Syd Barrett e sua banda, o Pink Floyd, está em ascensão no mundo da música. Daí, no verão, você vai com uns colegas para um lugar chamado Gog Magog experimentar chá de cogumelo pela primeira vez. Um deles, Nigel Gordon, resolve levar uma câmera de super-8 e gravar tudo. Normal, né ? Seria se o tal Syd Barret não tivesse se transformado num mito e sua banda uma das maiores de todos os tempos na história do rock. O resultado disso tudo é a primeira parte deste DVD, que por sorte ainda não foi lançado no mercado brasileiro. É uma sucessão de gente correndo por montanhas, Barrett chapado colocando partes de cogumelos nos olhos, e por aí vai.

A segunda parte do filme pode até atrair atenção por ter sido filmada ( pelo mesmo Nigel Gordon ? ) logo após o Pink Floyd ter assinado seu primeiro contrato com a EMI. Mostra a banda saindo dos famosos Abbey Road Studios, batendo um papinho com os amigos ali fora, brincando com a câmera, chapando, etc.

Tudo isto sem som, musicado artificialmente por um alguém que não é o Pink Floyd. Alguns críticos dirão que é um documento histórico porque mostra não só o momento em que Barrett entrou no mundo lisérgico, como quando eles passaram de banda sensação para uma promessa do mercado fonográfico ao assinarem seu contrato.

Mas a verdade é que este DVD me fez pensar em que ponto o mercado de DVDs chegou. Qual o sentido em se lançar uma coisa destas ? Será que os diehard fans do Floyd vão achar interessante ?

Na dúvida, assista chapado. Pode ser que seja melhor.

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