23.9.04



LIFEBLOOD – Manic Street Preachers

Abra as páginas dos jornais britânicos, e até de alguns brasileiros que cobrem o mundo do rock inglês. Só se fala do tal revival dos anos 80 e de como artistas do porte de Scissor Sisters, The Killers e até os incensados Franz Ferdinand tomam a “década perdida” como referência em seu som.

Acontece que para tomar a sonoridade de uma década de referência, é preciso muitas horas de quartinho aprendendo as lições ensinadas pelos professores que se formaram na cena pop daquela época. Caso contrário, corre-se o risco de a proposta se tornar efêmera antes mesmo de sua consolidação.

“Lifeblood” é o sétimo álbum de canções inéditas – e o primeiro desde 2001 - do Manic Street Preachers, uma banda que já passou por tantos percalços em sua carreira e já jogou em tantos times que é difícil apontar um estilo para defini-los. Power pop ? Brit pop ? Indie rock ? Nada disso. O Manic Street Preachers faz hoje manics pop – um estilo que pode até não ter sido totalmente criado por eles, dado ao número interminável de referências imprimidas por eles nas canções, mas é genuinamente original, por mais incrível que possa parecer.

Uma rápida passada pelo website da banda ( www.manics.co.uk ) dá uma pista do caminho que a banda optou por tomar neste “Lifeblood”. Ao listar os sons que ouvem na atualidade, Nicky Wire, James Dean Bradfield e Sean Moore entregam o jogo : New Order ( fase “Low Life” ), David Bowie ( fase “Scary Monsters” ), Fleetwood Mac, Cardigans, Orange Juice, Abba, Cabaret Voltaire, A Certain Ratio, The Cure, U2, Rush, e porque não The Killers e Scissor Sisters. Power pop, Gothic pop, indie rock, progressive pop, pop, pop, pop.....manics pop.

Basta passear pelas 12 faixas de “Lifeblood” para constatar que os Manics continuam extremamente pessoais na construção de suas melodias e arranjos( a voz aguda de James Dean Bradfield aliada à potência de sua guitarra, da bateria de Sean Moore, e da pontuação do baixo de Nicky Wire são irresistíveis ) ao mesmo tempo em que soam como suas influências de uma maneira honesta. Em “1985” e no primeiro single do álbum, “The Life of Richard Nixon”, eles soam mais New Order, em “Low Life” do que o próprio New Order. A bela “Empty Souls” bebe nestas mesmas fontes, mas também reverencia o próprio trabalho anterior, principalmente o clássico “Everything Must Go”. Daí por diante, as tais influências vão sendo assimiladas pelo ouvinte de uma maneira homogênea e conduzidas até o final do álbum com maestria.

Pela capacidade de se reinventar, assimilar influências, tendências e ainda assim soar inédito, o Manic Street Preachers já merece crédito. Crédito este que os traz de volta ao panteão pop, ocupando não só o lugar que é deles desde 1996 ( ano do estouro de “Everything Must Go” ) como mais alguns assentos que se encontravam vagos e que nomes como Killers, Scissor Sisters, Franz Ferdinand e outros esperavam para ocupar. Os “professores” Manics estão de volta e em forma.

16.9.04



LET IT BED - Arnaldo Baptista

Estranho é o mínimo que se pode dizer deste álbum.

Depois de muito, mas muito tempo mesmo, sem gravar nada inédito, o mutante Arnaldo Baptista lança “Let It Bed”, que pode ser descrito como uma ação entre amigos, ou uma caridade feita por alguns fãs ardorosos em prol da saúde de Arnaldo.

Sim, porque Arnaldo é hoje uma pessoa reclusa, que vive em Juiz de Fora (MG ) ao lado da esposa Lucinha, que o ajuda de todas as formas a se recuperar da tentativa de suicídio, em 1982. Mito para muitos, louco para outros tantos, Arnaldo jamais deixou de influenciar músicos por todas as partes do mundo. Dois deles – John, do Pato Fu e Rubinho Troll, ex-parceiro de John no Sexo Explícito – resolveram ir além.

Os dois levaram para a casa de Arnaldo em Juiz de Fora uma parafernália eletrônica de registro de áudio e montaram uma espécie de estúdio caseiro, para que o mestre pudesse ficar bem à vontade ao criar suas melodias, letras e dar vazão à sua lisergia, ainda bastante intacta nos dias de hoje. Paralelo a isto, outra dupla de fãs, Daniel Albinatti e Fabiano Fonseca – do Andar Estúdio e do projeto Digitaria – também ofereceram seus serviços como uma forma de agradecer tudo que Arnaldo fez pelo bem da música.

O resultado é um álbum complexo, difícil, mas que traz em suas 12 faixas uma amostra de como a genialidade aliada à loucura pode produzir uma obra instigante. Da primeira à última faixa, o que ouvimos ( e sentimos ) é um músico com uma capacidade enorme de compor, mas nitidamente fragmentado ao registrar. Por conta disso, ao invés da produção propriamente dita, o trabalho de John, Rubinho, Daniel e Fabiano foi simplesmente de amarrar as muitas pontas sonoras despejadas por Arnaldo a todo momento. Subvertendo o próprio processo de feitura de um álbum, os 4 produtores conseguiram assim chegar a um denominador comum que não é outro senão a cara do próprio Arnaldo Baptista : contestador, inovador, experimental e porque não pop em muitos momentos.

“Let It Bed” é mais do que um álbum, é um acontecimento. Muitos o comparam com “Gettin’ in Over My Head’, o trabalho mais recente de Brian Wilson, dos Beach Boys, que também contou com a colaboração de inúmeros amigos famosos. Como Wilson, Arnaldo foi ao céu e ao inferno, mas retornou. Para escrever mais um capítulo de uma tortuosa carreira. Nunca a máxima “de médico e louco, todos tempos um pouco” foi tão bem parafraseada.

“De músico e louco, todos tempos um pouco”

3.9.04

RAPIDINHAS

na ausência de bons lançamentos que mereçam textos longos ( ano fraco ? ), vamos a algumas rapidinhas.

OLDIES, BUT GOLDIES ( OU, SEMPRE É BOM REVISITAR OS CLÁSSICOS )

- Songs In The Key Of Life - Stevie Wonder. Animado pelo programa de tv que falava sobre as gravações desta maravilha, desempoerei minha cópia. O que dizer mais de um disco que tem "Isn't She Lovely", "Love's in Need Of Love Today", "Pastime Paradise" e "As" ? Simplesmente sublime.

- Darkness On The Edge of Town - Bruce Springsteen. O chefão em sua melhor forma, num de seus álbuns clássicos. "Racing In The Street", "Something In The Night", "Adam Raised a Cain" e a faixa-título valem qualquer centavo gasto ao adquiri-lo.

- Traveling Wilburys vol 1 - Traveling Wilburys. Bob Dylan, George Harrisom, Tom Petty, Jeff Lynne e Roy Orbison se reunindo para se divertirem e criarem mais algumas pérolas para suas carreiras. Quem resiste à voz de Orbison em "You're Not Alone" ?

- Rod Stewart & The Faces - Best Of. Coletânea dupla com o melhor da banda de Rod Stewart, Ronnie Lane e Ron Wood. Quem conhece o Acústico Rod Stewart ( um dos melhores da história, na minha opinião ), sabe da força das canções que em suas gravações originais, são infinitamente superiores.

NÃO SAEM DO CD PLAYER

- Hot Fuss - The Killers. Não sei explicar o porquê, mas "Smile Like You Mean It" é a minha música do momento.

- Wonkavision - Wonkavision. Disco de estréia da banda gaúcha por uma gravadora ( Orbeat ). Produzido por John ( Pato Fu ). Pop adolescente elevado à enésima potência.

- Gettin' Over My head - Brian Wilson. Novo álbum do beachboy. Ecos dele mesmo, dos BBoys e dos amigos convidados para a festa ( Paul McCartney, dentre outros )

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