8.10.04



AROUND THE SUN – R.E.M.

É uma tarefa bastante ingrata falar de um álbum de um de seus artistas prediletos predileta. Muitos dirão que é impossível deixar a passionalidade de lado. Outros tantos, eu incluído, dirão que nunca será possível falar de álbum algum sem que isso aconteça. Ainda mais quando o artista em questão é o R.E.M. – banda que, não raras as vezes, tratou o sentimento como coisa de gente grande.

“Around The Sun” é uma espécie de continuação musical de “Reveal” e “Up”, os dois últimos álbuns de inéditas de Michael Stipe, Mike Mills e Peter Buck. Já virou lugar comum dizer que desde a saída de Bill Berry, o R.E.M tem procurado ansiosamente seu caminho. Se “Up” é um álbum de transição e “Reveal” aponta para alguns caminhos, “Around The Sun” deveria ser a conclusão desta busca. Mas não é. E ainda assim, aponta para algum lugar.

Sim, as belas melodias, as letras inspiradas estão todas lá, mas ainda falta algo. Talvez não a jovialidade e força de trabalhos como “Document” e “Green”, mas a coesão e sensação de perfeição que permeava trabalhos como “Automatic For The People”. Canções como “Make It All Ok” e “The Outsiders” são belas, mas ainda falta algo. O tal pulo do gato que fez do R.E.M. a maior banda de rock do mundo e, num instante depois, responsável por que tantos corações rockers se derretessem ao som de “Everybody Hurts” ( talvez a mais linda balada já feita, à exceção de “God Only Knows”, dos Beach Boys ).

Stipe, Buck e Mills estão mais velhos, tranqüilos, em paz consigo mesmos, mas nem por isso relaxados. A construção das canções continua com a complexidade simples que sempre permeou seu trabalho. A politização das letras, marcante em alguns momentos de sua irrepreensível carreira, aqui chega em versão John Kerry, com a banda assumindo uma postura liberal a favor do candidato democrata à presidência americana, e dizendo isso em canções como “I Wanted to be wrong” e “The Worst Joke Ever”. Na verdade, o sentimento político está tão presente que é possível encontrar metáforas para isto em todas as letras de “Around The Sun”.

Não vai ser com este álbum que a banda vai deixar de ter uma carreira irrepreensível, mas o novo milênio ainda não mostrou suas caras para o R.E.M. Passionalidade e politização não são mais suficientes para dar o tal pulo do gato, mas ainda assim eles conseguem manter a linha. Tantos anos de estrada, por mais incrível que isso possa parecer, atrapalharam um pouco os rumos do trio. Ainda mais que, nesta era de pouca criatividade, todos parecem querer trilhar o mesmo caminho de sucesso deles. E é preciso estar bastante à frente de seu próprio tempo para fugir dele.

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