9.8.04



FESTIVAL ELETRONIKA 2004
5 a 8 de agosto
Marista Hall / Casa do Conde
Belo Horizonte - MG


Será leviano afirmar que o Eletronika é o principal festival de música eletrônica do país nos dias de hoje ? Muitos vão dizer que este título fica com o Skol Beats, outros dirão que o antigo Free Jazz, atual Tim Festival já conquistou este espaço, mas a verdade é que o Eletronika – festival criado em 1999 pela extinta Motor Music, e atualmente gerenciado por uma espécie de produtora-filhote, a Sacode – ostenta este título com louvor, por vários motivos.

O primeiro deles - e fator primordial para seu sucesso - é o fato de ele não ser uma grande festa, como o Skol Beats, ou simplesmente um palco para shows de artistas consagrados, como o Tim Festival. Desde seu início, a preocupação com o conceito ocupa lugar de destaque na programação, através dos inúmeros debates, workshops, palestras, e com certeza, em seu próprio line-up, que como o próprio subtítulo do festival anuncia, é bem mais uma plataforma de lançamentos, experimentos e novas tendências, do que simplesmente um spot para artistas consagrados “fazerem a cabeça da galera”.

Mas o lado “fazer a cabeça” também está presente no Eletronika. Em todas as edições, os principais djs do país vieram, tocaram e causaram furor. E é aí que a porca mais uma vez torce o rabo. A edição 2004, recém-terminada, deixou um nó nas cabeças dos produtores do evento, e outro nas do público. A fórmula “djs-que-levantam-multidões” não funcionou e as duas principais noites do evento estavam vazias. Será que ela se esgotou ? O público não está mais interessado nos chamados “pica-grossas” da música eletrônica, como Marky, Mau Mau, Patife e Anderson Noise ? Mas eles lotam clubes, casas noturnas e até estádios por onde quer que passem ! Por que não em Belo Horizonte ? O Eletronika continuará ostentando o título de principal festival de música eletrônica do país ? A seguir, os próximos capítulos.

Antes de tentar chegar a uma conclusão, vamos dar uma passeada pelo que de melhor aconteceu nos 4 dias do festival. Dividido em dois locais, o Eletronika 2004 ocupou a Casa do Conde Santa Marinha por 4 dias e o Marista Hall por dois. Na primeira, aconteceram os debates, workshops e os shows.....digamos....de menor público. Lá se apresentaram, entre outros, Totonho e os Cabra, Mombojó, De Leve, Mamelo Sound System, FAQ, Curumim, Labo, Digitaria, M. Takara, Pexbaa, Coletivo Universal, dentre outros. Mas pêra aí, meu camarada ? Você não disse que é um festival de música eletrônica ? Sim, eu disse, mas nos dias de hoje toda música é um pouco eletrônica, sacou ? Vamos colocar assim, então : o Eletronika é um festival de novas tendências musicais, que utilizam a eletrônica de alguma forma em seus trabalhos. Fica bem mais fácil compreender o porquê, o como e o quando do festival desta maneira.

Na Casa do Conde, tudo correu às mil maravilhas. Público interessado, clima de camaradagem geral, mistura de tribos, etc etc etc. Mas no Marista Hall, a coisa não esteve tão como esperado. A expectativa era de 5 mil pessoas/dia. Não deve ter chegado a 1.000/dia ( Jeff, Boffa, Aluizer, corrijam-me se estiver errado ). Mas onde foi o erro ? Na programação ? Bom, Marky, Xerxes, Patife, Mau Mau e Renato Lopes estavam lá. Tudo bem, tinha também Bojo e Maria Alcina ( puta show ), Dolores : Aparelhagem ( idem ), Bnegão e Seletores de Freqüência ( botaram todo mundo para chacoalhar o esqueleto ao som do “hino nacional” “Verdadeira Dança do Patinho” ) e outros artistas que não atraem tanto público assim, apesar de serem extremamente conceituados.

Muita gente reclamou do preço, mas me digam vocês : R$ 20,00 por uma noite destas não é um preço justo ? Menos do que isto é até desmerecer o trabalho dos artistas que ali se apresentaram. Bom, então o que restou ? O clima ? o mês de Agosto “cachorro-louco” ? Muitas opções na cidade ? Ameaças de bombas ou enxames de gafanhotos ?

Nada disso. Até agora não encontrei uma explicação possível para o fracasso. Já ouvi muitas. Que os djs “pica-grossas” antes se apresentavam na cidade uma vez por ano ( no Eletronika ) e agora vêm pelo menos 4 vezes por semestre. Que o Marista Hall não é o local apropriado ( não concordo ). Que o público não quer assistir a “novidades” como Bojo, Dolores e Gold Chains, misturados aos de sempre. Que o povo belorizontino é pão-duro e acha R$ 20,00 muito caro para um evento destes. Que o povo belorizontino está sem dinheiro. Etc, etc etc. Nenhuma destas “desculpas” me convenceu e continuo tentando encontrar uma explicação. A produção esteve mais uma vez impecável, os artistas foram de primeiríssima linha, o festival foi muito bem organizado e tal.

Chego a pensar que Belo Horizonte, depois de tanto tempo investindo nesta vocação eletrônica, não está preparada para o Eletronika. Talvez a cidade esteja mesmo perdendo o fio da meada e da história, e mais uma vez ficando para trás. Já se disse que o público belorizontino é dos mais difíceis do país ( daí o fato de a cidade ser um dos mercados-teste para lançamentos de produtos ), mas isto tem se agravado nos últimos tempos. Será que, anos depois, olharemos para trás e nos orgulharemos – tarde demais – do que foi feito, assim como muitas e muitas iniciativas que nasceram e morreram na praia ? Sinceramente, espero que não. Mas se acontecer, estarei preparado.

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