10.5.04
Se não fosse por mais nada, a minha ida ao Curitiba Pop Festival já teria valido apenas para rever a cidade que conheci há 15 anos atrás, durante uma noite apenas. Cidade linda, charmosa, bem cuidada, limpa e cheia de pontos altos. Mas com certeza, o principal neste final de semana ( na minha opinião e, com certeza, na de mais ou menos 8 mil pessoas ) foi o fato de a cidade ser a sede de mais uma edição daquele que já está sendo considerado “o maior evento indie do país”.
Minha intenção era chegar cedo para conhecer o local e a estrutura. Confesso que fiquei abobado. A Pedreira Paulo Leminski é sem dúvida alguma o local mais bonito para shows do país e quem sabe do mundo. Quem não gostaria de assistir ao show de sua banda predileta cercado por árvores, tendo um lago e uma cascata ao fundo ? Fiquei imaginando que figuraças como Morrissey e Paul McCartney já se apresentaram ali para alguns milhares de felizes curitibanos.
Os shows começaram com um atraso de meia hora. Apesar de a escalação nacional ter sido bastante criticada ( foi com certeza inferior à do ano passado ), algumas boas surpresas apareceram. Na sexta-feira, elas atenderam pelos nomes de Pipodélica e Sonic Jr. Foram os únicos que realmente atraíram minha atenção. O primeiro, pelo psicodelismo e domínio de palco e o segundo pela mistura eletrônica-regional. O resto foi o resto. Num geral, as bandas que se apresentaram no CPF 2004 padeceram do mal “muito palco para pouca banda”. Não que elas sejam pequenas ou ruins, mas todas estão acostumadas a se apresentar para platéias bem menores e se perderam na mega-estrutura do festival.
Aí veio a tal Hell on Wheels. Fiquei me perguntando de onde surgiu aquilo e o porquê daquela banda estar ali se apresentando, já que ninguém a conhecia e tampouco estavam gostando. Felizmente durou pouco. E na sequência, a primeira grande atração do festival, e um dos motivos da minha ida a Curitiba : o Teenage Fanclub.
Nunca fui um fã hardcore do Tineijão, mas aprendi a gostar há bem pouco tempo. Mais do que depressa, reparei alguns erros históricos e adquiri todos os álbuns da banda ( antes disso, possuía apenas o “Songs From Nothern Britain” ). Fui preparado para o show e não saí de lá decepcionado. Muito pelo contrário. O Teenage Fanclub já havia feito um show em Recife e três em São Paulo, antes desta apresentação em Curitiba. Já sabia das preferências do público e mandou ver nos clássicos. “Star Sign”, “What You Do To Me”, “Sparky’s Dream”, “Neil Jung”, “I Need Direction”, “The Concept” e inúmeras outras fizeram a alegria do público presente ( menos do que o esperado ) e esquentaram os corações dos fãs àquela altura gelados pelo frio que baixou sobre o local. O quarteto ( em alguns momentos quinteto, com a adição de um tecladista ) parecia bem à vontade e feliz por estar ali proporcionando bons momentos musicais para a tão carente comunidade indie brasileira.
E aí veio o sábado..
Decidi que não iria tão cedo para o festival no sábado. Desde o início, minha intenção em Curitiba era ver Teenage Fanclub e Pixies. O que viesse além disso seria lucro. Portanto, pra que me desgastar vendo bandas que com certeza verei novamente em outras quebradas ?
Daí, cheguei à Pedreira pouco depois das 21 horas a tempo de pegar o show do Mombojó. O disco é muito bom, mas o show foi apenas. Mais uma vítima da síndrome do palco grande. O vocalista Felipe dançava a lá Renato Russo, parecendo querer preencher os espaços do palco. Mesmo assim, o Mombojó deixou uma boa impressão e uma vontade de querer vê-los em breve num local menor.
Na sequência, aquele que seria o melhor show do festival, descontadas as duas atrações principais : Frank Jorge, Wander Wildner e Flu. Quem, em sã consciência, consegue resistir aos clássicos de suas bandas de origem ( Graforréia Xilarmônica, De Falla e Replicantes ) e até de suas carreiras solo ? “Menstruada”, “Lugar do Caralho”, “Surfista Calhorda”, “Eu” e tantos outros foram entoados como hinos pela multidão ( àquela altura, a Pedreira já estava com um público bem superior ao do dia anterior ) e foram executados com maestria e despojamento pela banda que, ao contrário das demais, soube aproveitar o fato de estar num festival e preencher todos os tais espaços do palco. Showzaço.
Depois, os PinUps, reunidos para esta apresentação. Nunca fui fã da banda, portanto não me agradou. Lá pelas tantas, vi a baixista e vocalista Alê pedindo para a produção do evento permitir que eles tocassem mais duas canções. Mas àquela altura do campeonato, o público só queria uma coisa : Pixies.
Não sei se vocês – fãs da boa música - já tiveram a agradável sensação de estar assistindo a um show de sua banda predileta no auge de sua forma. Eu já e vivi isto novamente na madrugada de sábado para domingo, na Pedreira Paulo Leminski, quando Frank Black, Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering subiram ao palco do Curitiba Pop Festival para repararem um erro de mais de 10 anos e finalmente se apresentarem em terras brasileiras. Tudo bem que a banda terminou e voltou agora para uma turnê caça-níqueis. Mas se isto é caça-níqueis, eu quero é morar num cassino. A verdade é que a banda está em plena forma e nem parece que ficaram muito tempo inativos. A explicação para isto não interessa. O que importa é que a história do showbiz brasileiro não será a mesma depois do show dos Pixies.
Sem conversar muito, abriram com “Bone Machine” e foram pouco a pouco desfilando seu interminável rol de hits. “Monkey Gone To Heaven”, “Hey”, “Gigantic”, “Debaser”, “Wave of Mutilation”, “Where’s My Mind”, “Isla de Encanta”, “Velouria”, “Here Comes Your Man” e tantos outros clássicos fizeram muitos fãs chorarem e tantos outros pensarem na famosa frase do finado Kurt Cobain, que ao descrever sua “Smells Like Teen Spirit”, declarou que estava apenas tentando fazer uma canção à moda pixieana. Encerraram com “Planet of Sound”, que foi visivelmente solicitada por Kim Deal para os companheiros de banda. Talvez pelo fato de ela estar curtindo o momento com a multidão. Fã da própria banda ? Por que não ?
A máxima do “me faltam palavras para descrever” é perfeitamente aplicável ao momento. Eu poderia aqui colocar inúmeros adjetivos como “sublime”, “espetacular”, “inesquecível”, “mágico”, mas nenhum deles seria suficiente para resumir o clima que ali reinava. O Curitiba Pop Festival 2004, em especial o show do Pixies, reafirmou minha paixão pela música e me fez perceber o porquê de gostar tanto desta cachaça. Ouvir um bom disco, ver um bom show, me faz relembrar de minha infância e de como ganhar um brinquedo era bom. A sensação é a mesma.