26.11.04



WITH THE LIGHTS OUT - Nirvana

Estou ouvindo.

Mas sei lá...será que os die-hard fãs da banda ainda aguentam ouvir a enésima versão para "Polly" ou uma outra que parece ter sido gravada em um gravadorzinho no porão de Cobain para "rape Me" ?

Sou fã da banda e digo que não tenho paciência para isto. É só curiosidade e pronto. Não vou ouvi-la mais. Prefiro ouvir as originais.

24.11.04



HOW TO DISMANTLE NA ATOMIC BOMB – U2

Massacrados. Isto é o mínimo que se pode dizer das reações da crítica mundial acerca do novo trabalho do U2, “How To Dismantle na Atomic Bomb”. De fato, nem toda a crí-crítica destruiu o álbum, mas apenas aqueles que esperavam um novo “Boy” ou um novo “Achtung Baby”. Ou ainda, quem sabe, que a banda mirasse suas antenas no chamado novo rock e despejasse um álbum com ecos de “gênios” como Libertines ou Rapture.

Muitos disseram que a banda está apenas despejando mais algumas canções sem criatividade – repetições do que eles mesmos já fizeram no álbum anterior, “All That You Can’t Leave Behind” – ao contrário de trilharem o brilhante caminho do flerte com a eletrônica, como em “Pop” ou “Zooropa”.

A grande maioria dos cri-críticos torceu o nariz para a quantidade de baladas existentes neste álbum. Por que o U2 prefere fazer uma “Sometimes You Can’t Make It On Your Own” – em homenagem ao pai de Bono, morto recentemente – do que aprofundar os conceitos presentes em faixas como “Discotheque” ou “Zooropa” ? Por que cargas d’água eles preferem fazer uma falsa volta às origens, como em “Vertigo” a repetirem o brilhante “Achtung Baby”, que daria muito mais prestígio à banda ?

Se eu fosse Bono, The Edge, Larry Mullen e Adam Clayton, me preocuparia em agradar aos críticos ao invés de compor belas melodias, como “City of Blinding Lights” e “Original of The Species”. Para que isso ? Para agradar aos fãs ? Ah, que nada. O negócio mesmo é colocar ritmos eletrônicos, ser remixado por algum dj alemão oriental e fazer uma turnê em pequenos clubes, com capacidades para 200 pessoas, no máximo.

Finalmente, ouvindo “How To Dismantle An Atomic Bomb” e lendo as cri-críticas despejadas na imprensa mundial, começo a achar que realmente estamos vivendo uma era sem parâmetros. Quando a referência para o rock mundial é o Libertines ( Desculpem cita-los de novo, mas é que eu simplesmente acho o hype em torno deles muito, mas muito mesmo, triste. Exatamente por serem uma banda tão chinfrim. ), eu prefiro desistir e ouvir jazz. E discos novos e antigos do U2 – esta sim, uma banda que sempre tem algo a dizer, ainda que seu último álbum não seja o melhor de sua carreira. Que eles envelheçam dignos e jovens como nesta atual fase.

11.11.04

TIM FESTIVAL 2004
Jockey Clube de São Paulo
Dia 6 e 7 de novembro de 2004


Passados alguns dias do Tim Festival 2004, ainda estou com um gostinho de quero mais, ou de “foi bom pra caralho” na boca. Sem dúvida alguma, foi a melhor edição do festival ( considerando que o Tim é uma espécie de evolução do Free Jazz ) que já fui. Claro que em anos anteriores aconteceram alguns shows inesquecíveis, mas num geral a qualidade das atrações desta edição superou as expectativas. Com apenas uma exceção, mas tudo bem.

Dia 6.

Atrasado, graças ao trânsito de São Paulo e à dificuldade em estacionar o carro no Jockey, entrei já no meio do show do Picassos Falsos, no Tim Stage. A impressão que dava era que o público estava usando aquele show para se situar, encontrar os amigos e fazer o chamado “social indie”. Ninguém prestava atenção à banda, que parecia ter sido colocada ali para cumprir mesmo esta função, apesar de terem feito um ótimo show – ainda que musicalmente deslocados, abrindo para PJ Harvey e Primal Scream. Mais particularmente, gostei do novo arranjo para o “clássico” da banda, “Quadrinhos” ( “Que guitarrista não quis tocar o riff desta música na década de 80 ?” foi o comentário ), mas foi só. Talvez em um outro lugar, num outro momento.

PJ Harvey entrou trajando um vestido vermelho que fazia uma espécie de propaganda de seu mais recente álbum, “Uh Huh Her”. Impressionante é constatar que a feiúra e o sex appeal ( ainda se diz “sex appeal” ? ) podem tranquilamente conviver juntos em uma mesma pessoa. No palco, Polly Jean esbanja isso tudo, além de um vigor impressionante, uma presença de palco sublime e uma potência na voz para deixar muito vocalista por aí de queixos caídos. Some-se a isto a competência da banda que a acompanha e voilá. Está aí a receita de um show perfeito. Privilegiando os álbuns mais recentes, mas sem se esquecer das canções de seus dois primeiros e fundamentais trabalhos ( “Dry” e “Rid of me” ), a pequena Polly Jean arrasou Paris em chamas. Fez um show avassalador, com direito a coro da multidão em “Down By The Water”. Ao final do show, o comentário era “Bobby Gillespie vai ter que suar muito a camisa para dar conta do recado”.

Nunca fui um fã ardoroso do Primal Scream, mas sempre respeitei o trabalho da banda, em todas as suas fases. Particularmente, prefiro a atual, mais eletrônica, mas também dou lá meus pulinhos por “Rocks” e “Movin’ On Up”. Pois quando Bobby Gillespie e sua turma entraram no palco, percebi que ia ser histórico. Primeiro, porque nada mais nada menos que três guitarristas despejavam acordes distorcidos em nossos ouvidos. Segundo, porque um deles era ninguém menos que Kevin Shields, do seminal My Bloody Valentine. E terceiro porque a banda havia decidido tocar num volume ensurdecedor. PJ Harvey já havia tocado bem alto, mas os primeiros acordes do Primal Scream fizeram com que nossos ouvidos sintonizassem uma outra freqüência, bem mais alta, de guitarras ao vento. E o que aconteceu na próxima hora e meia foi uma das melhores apresentações ao vivo que vi na minha curta, porém rocker, existência. Alternando momentos “guitarra suja” com outros eletrônicos, Bobby Gillespie não só deu conta do recado como superou em muito a performance que o precedeu. Três momentos ficarão guardados na memória para sempre : a multidão entoando, pulando e gritando “Rocks” a plenos pulmões; a arrasadora “Swastika Eyes” e o encerramento com “Movin’ On Up”. Depois disto, só mesmo indo para casa e tentar imaginar quem poderia superar esta performance no dia seguinte.

Dia 7

Desde o início encarei “Uma Noite com Brian Wilson” como uma experiência sociológica, ou uma oportunidade única de ver ali na minha frente o cara que compôs uma das Top 10 canções de todos os tempos, “God Only Knows”. Mas mesmo com tudo isso, fiquei com um pé atrás dado ao estado clínico da figura. Muito se diz de Brian Wilson, mas muito pouco é comprovado. Dizem que ele ouve vozes, que é esquizofrênico, que tem medo de tudo e de todos, que pirou, etc.

Por isso, ao entrar no Tim Stage no domingo, tive uma sensação de que estava diante de uma oportunidade única de comprovar por mim mesmo isso tudo. E lá veio ele. Atrás dele, uma banda de mais ou menos umas 12 pessoas, extremamente competente, que reproduzia os clássicos dos Beach Boys com perfeição, além de algumas belas canções de sua carreira solo. Wilson ficava ali na frente, fingindo tocar ora um teclado, ora um baixo, lendo as letras num teleprompter e atuando mais como um maestro do que um performer. E os hits foram se sucedendo. Aos primeiros acordes de “Sloop John B”, a primeira canção, a platéia já estava ganha. E quando ele introduziu “Wouldn’t It Be Nice”, me conquistou, deixando meus olhos mareados. Mas na seqüência, ele seria muito covarde com meu coração. Anunciando como “a canção preferida de Paul McCartney”, ele nos presenteou com uma belíssima versão de “God Only Knows”. Ali, Wilson me conquistou de vez e me fez chorar copiosamente. Dali em diante, o sorriso permaneceu na cara até o bis matador, com “Bárbara Ann”, “I get Around” e tantas outras. Ah sim, como esquecer de “Good Vibrations” e as músicas de “Smile”, que foram enxertadas durante o set, apesar de a organização do evento ter anunciado que ele iria ser executado na íntegra ? Ainda bem que não foi. Seria demais para meu pobre coraçãozinho.

Depois de Brian Wilson, o que esperar ? Lá fui eu para o Tim Lab sem saber a resposta para isto e com a certeza de que já havia visto o que interessava. O primeiro show da noite no Lab cumpriu o mesmo papel dos Picassos Falsos na noite anterior no Stage. Rodrigo Guedes e seu Grenade bem que tentaram, mas o público estava ali para ver Libertines e não tinha jeito mesmo. Foram competentes e até arrancaram aplausos de muitos, mas a noite era mesmo da banda seguinte.

Ou quase. Os Libertines entraram no palco com um atraso regulamentar, em virtude da transmissão ao vivo pela Rede Globo. O que só aumentou a minha impaciência com eles. E olha que eu dei muita chance a esta banda. Tenho os dois discos, já ouvi inúmeras vezes, acompanho todo o hype, mas não teve jeito. Assim como acho os dois discos bem meia-boca, a banda não conseguiu me convencer em nenhum momento em cima de um palco. Dizem que de cada cinco shows, eles fazem um bom e quatro ruins. Não acredito. Acho que os cinco devem ser ruins. Só sei que Carl Barat e sua turma me fizeram sentar no fundo do Tim Lab, enquanto a multidão que acompanha qualquer hype cuspido pela imprensa musical indie se espremia lá na frente. Grande parte do público era formado por mulheres, que acham o cara lindo (como me foi confessado por uma delas). A esta altura do campeonato eu nem estava mais prestando atenção e contando os minutos para que o show – interminável – acabasse.

E assim que ele acabou, a multidão deu no pé. Muitos foram badalar do lado de fora. Outros tantos rumaram para o show do Pet Shop Boys. Eu e mais a turma do metal ficamos para conferir a performance do Mars Volta – a mais aguardada por mim naquela noite. E eles não decepcionaram. Não dá pra definir muito em palavras o que foi aquilo. Talvez os adjetivos “visceral”, “insano” e “esporrento” definam melhor o que foi o curto set de 50 minutos. Olhar para o lado e dar de cara com bocas abertas era comum. Mais comum ainda era ouvir termos como “ca-ra-lho !” ou “pu-ta-que-pa-riu !” Ao final, ficou a sensação de que um trator havia passado por todos nós e nos deixado catatônicos. Impecável. Um daqueles shows que muda a vida de muita gente. A mistura de Led Zeppelin, King Crimson, Jimi Hendrix e punk rock do Mars Volta em cima de um palco fez com que muitos comparassem aquele show ao famoso show dos Sex Pistols em Manchester, em 1976, que foi assistido por pouco mais de 40 pessoas, mas todas montaram bandas.

No final das contas, fica o parabéns para a Dueto – organizadora do Festival – que conseguiu superar em qualidade a edição anterior, além de todas as que assisti do Free Jazz. Para 2005, o Festival promete voltar ao seu formato inicial – acontecendo no Rio e em São Paulo simultaneamente. Mas, parafraseando o que foi dito ao final do show de PJ Harvey, “a Dueto vai ter que suar muito a camisa para superar a edição deste ano”.

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